Coronavírus: como preservar a nossa saúde mental em meio ao isolamento social
Por: Suellen Tomaz
O isolamento social foi uma das medidas estabelecidas pelo Ministério da Saúde a fim de evitar o contágio do novo coronavírus. Com essa mudança, obtemos a prevenção, mas por outro lado, nos deparamos com a falta de interação interpessoal, impactando o nosso sistema emocional.
Raquel Rocha, Psicanalista, especialista em Saúde Mental, Terapia Familiar e Neuropsicologia, nos concedeu uma entrevista orientando como preservar a nossa saúde emocional durante o isolamento. Confira baixo.
Isolamento é sinônimo de sofrimento?
Raquel Rocha -O ser humano é inerentemente social, precisa do outro para sobreviver e viver. No entanto, o isolamento deste período não precisa ser sinônimo de sofrimento. Muitos estão em casa com suas famílias e este momento traz consigo a oportunidade de convivência, de ajuda mútua, de diálogo, de atividades em grupo, traz consigo a oportunidade de amar no mundo real, além das mensagens da rede social.
Os que estão em isolamento sozinhos, longe dos familiares, este pode ser um momento propício para reflexão, autoconhecimento, leituras… Para colocar em prática aquele projeto antigo: aprender a pintar, escrever poemas, aprender a tocar aquele violão empoeirado que está em cima do guarda-roupa.
Para aqueles que se encontram em sofrimento psíquico é importante pedir ajuda: converse com seus familiares, com amigos de sua confiança, busque atendimento médico, e psicoterápico. Hoje contamos com as possibilidades de atendimento online por parte de diversos profissionais. Também é possível minimizar a solidão do isolamento com as ferramentas tecnológicas. A internet que tanto lhe afasta daqueles que você ama, também pode ser utilizada para aproximar. O isolamento é necessário, mas a solidão não. Aproveite esse tempo em casa, para melhorar a alimentação, tentar fazer alguma atividade física, tomar um pouco de sol, mesmo que seja pela janela do quarto.
Somos mente e corpo e os gregos Platão, Aristóteles e Hipócrates, já consideravam a unidade indivisível do ser humano. Isolamento não precisa ser sinônimo de sofrimento, pode ser uma oportunidade de aprendizagem, autoconhecimento, autocuidado e fortalecimento de vínculos.
Como podemos evitar os pensamentos negativos?
Raquel Rocha -Se apenas fugimos desses pensamentos, eles se fortalecem e se apoderam de nós. É importante entendê-los: Qual a origem desses pensamentos? Por que eles aparecem? O que querem nos dizer? Nesse processo de enfrentamento recomendo que busque ajuda de um profissional qualificado. Caso não possa pagar, procure por atendimentos gratuitos que estão sendo oferecidos durante esse período de isolamento social. Lembre-se: muitas vezes esses pensamentos negativos são processos de autossabotagem que te impedem de realizar todo seu potencial de vida.
O que pode ser mudado na vida das pessoas daqui pra frente?
Raquel Rocha -As pessoas estão debatendo sobre o novo normal, algumas dizem que quando a pandemia passar tudo voltará a ser como antes, outras dizem que tudo será diferente. De qualquer forma, como será o mundo daqui para frente não é a pergunta mais importante. A pergunta mais importante é: Qual a vida que você quer viver daqui para frente? Você quer que tudo volte a ser como antes? Você era feliz com a vida que levava antes? Como você utilizava seu tempo? O que você quer manter e o que não faz mais sentido em sua vida?
Durante anos ouvi relatos das pessoas sofrendo pela falta de tempo, pelo cansaço, pela culpa. Culpa de não ter dado aquele telefonema para os pais, culpa pela falta de energia para brincar com os filhos, culpa pela falta de paciência em estudar com eles. Ouvi relatos do quanto fazia falta estar com aquela amiga querida, que morava na mesma cidade, mas cujas agendas não se encaixavam para se encontrarem para um café com bolo.
Trabalhávamos até a exaustão para comprar coisas que não precisávamos, para mostrar à pessoas que não se importavam conosco. Comprávamos essas coisas com nosso tempo de trabalho, nosso de vida, tempo que poderíamos dedicar para cuidar e amar o outro e a nós mesmos. E essas coisas que comprávamos com o tempo de nossas vidas viravam lixo, lixo jogado na casa em habitamos chamada planeta Terra. E quando essas coisas viravam lixo nós comprávamos mais, e trabalhamos mais para pagar por elas e sofríamos mais com a falta de tempo. Falta de tempo para ligar para os nossos pais, para brincar nossos filhos, para abraçar nossos irmãos, para encontrar nossos amigos. Era um ciclo que parecia sem fim.
Essa pausa no mundo permitiu que você, de uma forma ou de outra, interrompesse esse ciclo e agora você pode usar esse tempo para se perguntar: Qual a vida que você que viver daqui para frente?.
Raquel Rocha
Psicanalista
Especialista em Saúde Mental
Especialista em Terapia Familiar
Especialista em Neuropsicologia
Graduada nas áreas de Comunicação, Radio e Tv e Ciências Econômicas
Graduanda em Psicologia
Membra da Academia de Letras de Itabuna