Renato Costa: Uma Vida Dedicada à Medicina e ao bem

Renato Costa nasceu em Itiruçu, antes chamada de Alto do Bonfim, na região do Vale do Jiquiriçá, uma pequena localidade situada no sudoeste da Bahia, nas proximidades de Jequié. Sua infância transcorreu nesse cenário até os nove anos de idade, quando, por decisão de sua mãe — uma mulher de visão ampliada e sensibilidade para o futuro —, a família se transferiu para Jaguaquara. Filha de seu tempo, mas à frente dele, Marieta Borges da Costa conduziu essa transição visando o acesso à educação para seus filhos. Renato era o caçula dentre cinco irmãos, sendo três irmãs, Mariá, Marinalva e Miralva, e um irmão mais velho, Manoelito. Os pais eram pequenos comerciantes, mantendo uma loja modesta em Itiruçu. Ao migrarem para Jaguaquara, encontraram no Colégio Taylor Egídio — instituição centenária e ainda hoje em atividade — o espaço propício para o início da formação escolar dos filhos. Entretanto, as limitações educacionais locais, que não ultrapassavam o ensino ginasial, levaram os irmãos a buscarem novos horizontes em Salvador, um centro de formação mais avançado. Um dos agentes catalisadores dessa trajetória foi o tio Roque Borges de Santana, irmão do avô de Renato, Roldão Borges, cuja visão pragmática impulsionou
a família a sair dos limites da pequena Jaguaquara. Em maio de 1954, desembarcaram em Itabuna, onde Renato, então com 13 anos, prosseguiu seus estudos. Concluiu o curso primário na escola Erasmo Braga, localizada no subsolo da Igreja Presbiteriana. Sua professora, Edith Araújo, era símbolo do rigor pedagógico da época — comparável, nas palavras dos antigos, a uma “Chaloup de saia” pela severidade e solidez de sua conduta educacional. Ewerton Chaloup foi um educador de destaque em Itabuna, cuja dedicação ao ensino deixou um legado duradouro na comunidade. Em 1954, Renato Costa foi aprovado no exame de admissão do Colégio Divina Providência e, em 1955, iniciou o curso ginasial. Posteriormente, retornou a Jaguaquara para concluir os estudos em colégio interno, repetindo o primeiro ano, e mais tarde se transferindo para Salvador, onde ingressou no Colégio 2 de Julho. Lá, estudou entre 1958 e 1962, completando o terceiro científico em um período de efervescência cultural e política. Inicialmente interno e, depois, residente em pensionato, vivenciou a vida estudantil com intensidade. Em 1963, foi aprovado no vestibular de Medicina da Universidade Federal da Bahia. O curso médico coincidiu com os anos mais conturbados da história política brasileira, marcados pelo golpe militar de 1964 e pelos chamados “anos de chumbo”. Nesse ambiente de tensão, o movimento estudantil pulsava fortemente, e Renato esteve no centro dessa ebulição. Formou-se em 15 de dezembro de 1968, tendo sido escolhido orador da turma. O discurso, feito dois dias após a promulgação do Ato Institucional n.o 5, criticava com veemência a repressão, com a célebre frase: “Ninguém tem o direito de manchar de sangue o amanhã que não vai viver”. Essa assertiva reverberou no meio político e lhe trouxe sérias complicações. Após a graduação, ingressou na residência de clínica médica no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, onde permaneceu entre 1969 e 1970, dedicando-se à medicina interna. Foi nesse período que se apaixonou pela nefrologia, especialidade que alia raciocínio clínico refinado e abordagem humanista. Em janeiro de 1971, encaminhado pelo colega Marcos Hoette, seguiu para Curitiba, onde foi orientado pelo Dr. Adyr Soares Mulinari (1927–2017), um dos mais respeitados pioneiros da nefrologia no Brasil, com especialidade nos Estados Unidos, em instituições como a Columbia University, a University of Washington (com Belding Scribner) e a Cleveland Clinic (com Willem Kolff), dois dos maiores nomes mundiais
da diálise e do transplante renal. Sua trajetória como médico, professor e gestor acadêmico deixou um legado profundo na medicina brasileira. Nesse núcleo de formação, Renato  aprofundou-se em nefrologia, num período de 18 meses — de janeiro de 1971 a junho de 1972. Por influência do colega Álvaro Lima de Oliveira, Renato passou a participar do cenário médico de Ilhéus. No mesmo período, através do Dr. João Otávio Macedo, conheceu o provedor da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, Calixto Midlej. Em 1973, começou a trabalhar aos domingos no Hospital Manoel Novaes — então um hospital geral —, onde consolidou sua atuação em clínica médica. Dividindo suas atividades entre Itabuna e Ilhéus, Renato começou a atender pacientes renais em estado crítico, agudos e crônicos, utilizando a diálise peritoneal como alternativa terapêutica. Foram centenas de atendimentos e muitas vidas salvas. Em 1977, um significativo avanço tecnológico se deu quando — com o apoio de Calixto Midlej e por meio de uma doação articulada com João Alfredo Amorim, então presidente do Instituto do Cacau da Bahia —, Renato ajudou a instalar a primeira máquina de hemodiálise no interior baiano. Circunstância que o fez retornar ao Rio de Janeiro com o técnico Arnaldo Salles para uma reciclagem em hemodiálise.

Dr. Renato e o 1º paciente da implantação do serviço de Hemodiálise Da Sanca Casa de Misericórdia de Itabuna.

Em janeiro de 1978, Renato Costa pôde realizar o primeiro procedimento, em Itabuna, no Hospital Santa Cruz, em um paciente da CEPLAC chamado Manoel Nascimento. Nesse instante histórico, ao lado de Renato estavam Dr. João Otávio, a enfermeira Cristina Setenta e o técnico Arnaldo Salles. Com o tempo, outros profissionais foram sendo incorporados à equipe de trabalho, além do Dr. João Otávio, o Dr. Almir Alixandrino, a Dra. Célia Kalil, a Dra. Neyde Vinhático e a Dra. Tatiana Mattos. Mais tarde, o Dr. Rodolfo Nascimento, a Dra. Carolina Teles, a Dra. Maria Carolina e, mais recentemente, o Dr. Everton de Oliveira.

Equipe pioneira que participou da implantação da hemodiálise

Da esquerda pra direita: As técnicas- Nanci, Isabel, Ana Maria e Arnaldo.
De Azul a Enfermeira Chefe Cristina Setenta e o Esposo Dr. Valdemir Andrade.

Dr Renato e Cristina Setenta, a 1ªenfermeira que participou da implantação.

A trajetória médica de Renato Costa é parte de um compromisso ético- científico mais amplo, movido por ideais humanitários e pela busca contínua pelo conhecimento aplicado ao cuidado social. A narrativa política de sua vida — iniciada oficialmente em 1988 com sua eleição como vice-prefeito, ao lado de Fernando Gomes — deu forma objetiva aos interesses altruísticos de Renato Costa. Em abril de 2025, o Governo do Estado da Bahia inaugurou o Centro de Hemodiálise Dr. Renato Borges da Costa, no Hospital São Lucas, em Itabuna. A unidade, com investimento de R$ 8,1 milhões, conta com 54 máquinas destinadas ao tratamento ambulatorial de pacientes com doença renal crônica, ampliando significativamente a oferta de serviços especializados na região. A escolha do nome do centro é um reconhecimento à trajetória do Dr. Renato Costa, por sua imensa e pioneira contribuição na área de nefrologia, fundamental para o desenvolvimento da medicina no sul da Bahia, bem como à sua trajetória mais ampla, que ajudou a ampliar a percepção médica de toda uma geração, humanizando os procedimentos e centrando as práticas nas demandas do paciente. Renato Costa já havia sido homenageado pela Santa Casa de Misericórdia de Itabuna em 2013, quando a instituição completou 96 anos. Na ocasião, Renato recebeu a Comenda Monsenhor Moisés Gonçalves do Couto, como reconhecimento pelos amplos serviços prestados à comunidade. Dr. Renato Costa, além de membro da Academia de Medicina de Itabuna, ocupando a Cadeira 2, cujo patrono é Manoel Rodrigues, é um símbolo para a medicina, por sua perspectiva holística, e sua atuação ética e humanista tem sido referência para a comunidade médica local. Reféns de um tempo pós-moderno, quando os valores se subverteram e convivemos com medicinas empresariais e a vida humana passou a integrar um leque de interesses de mercado, agentes de saúde como Renato Costa nos enchem de esperança. Renato, que ainda traz no seu repertório o juramento de Hipócrates, sem se contaminar com as falácias desses dias obscuros. Alguém que consegue associar os saberes científicos ao psicossoma e aos valores cristãos mais profundos. O filósofo Immanuel Kant diz que o antigo juramento grego exemplifica o imperativo categórico, ou seja, o médico deve agir de tal modo que a sua ação possa se tornar uma lei universal. Assim, a integridade moral é a base prática da medicina. Renato Costa é um modelo real de como todo médico deve agir: “Exercendo a medicina com dignidade e consciência, colocando a saúde e o bem-estar das pessoas acima de qualquer outro interesse”. O juramento carrega uma sacralidade que transcende o tempo. Exige do médico não só competência técnica, mas uma conduta quase sacerdotal — de discrição, compaixão e responsabilidade. Em um tempo em que a eficiência e o dinheiro sobrepõem a ética, o compromisso com a vida humana é tanto radical quanto necessário. E esse perfil altruístico e fraterno desenha nitidamente quem é Renato Costa, sua postura, que, na perspectiva existencialista, implica em responsabilidade plena, na opção pelos necessitados, na autoconstrução de um ser no mundo, buscando amenizar o sofrimento do outro — como parte essencial de sua própria liberdade e existência. O juramento médico não é apenas um ritual; é uma escolha ética contínua. E mais do que uma intenção aos deuses ou à sociedade, é uma promessa à própria consciência — àquilo que torna o médico verdadeiramente humano diante da fragilidade da vida. Renato Costa tem meio século dedicado à honestidade, à coragem e ao amor desinteressado, honrando a confiança daqueles a quem tem a honra de tratar. Renato Costa foi deputado estadual pela Bahia, exercendo dois mandatos. Na Assembleia Legislativa do Estado, concentrou sua atuação em áreas como saúde, educação, meio ambiente e segurança pública, com especial atenção às necessidades de todo o sul do estado — sobretudo Itabuna e Ilhéus —, destacando a importância de investimentos em hospitais públicos, como o Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães (HBLEM), em Itabuna, e o Hospital Regional, em Ilhéus. A ação mais  significativa de Renato, na ALBA, não obstante, foi a criação da Comissão Especial do Cacau, chamando a atenção das autoridades para uma grande crise na lavoura cacaueira que poucos percebiam à época. No plenário, Renato começou a sua argumentação sobre o tema afirmando se tratar de “uma tragédia”. Afinal, a crise do cacau era resultado de uma confluência rara de fatores nefastos, como a estiagem prolongada, os impactos financeiros da implantação do Plano Real, a crise econômica internacional (que fez os preços despencarem) e a vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, que viria a devastar a produção de cacau. Também na ALBA, Renato Costa foi presidente das comissões de saúde e de
meio ambiente. Em 2001, recebeu o Prêmio Destaque Parlamentar, concedido pelo Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa da Bahia. Em 2003, foi homenageado outra vez. Agora, como um dos fundadores da UNIMED Sulbahia. Em 1996, Renato Costa se candidatou à prefeitura de Itabuna, numa eleição que deixou muitas dúvidas quanto à lisura da apuração (numa época sem urnas eletrônicas, havia possibilidade de votos brancos serem manipulados). Renato foi o segundo colocado e perdeu por um percentual pequeno. O “Dr. Renato”, como o chama o povo simples a quem ele sempre atendeu, materializa o empenho de uma vida inteira de serviços e ao sonho da edificação de uma sociedade fraterna e pautada na solidariedade e justiça social. São valores que, em Renato, vêm de berço. A sua mãe, Marieta Borges da Costa, foi a fundadora da Igreja Batista Teosópolis, em Itabuna, revelando uma visão de fé, serviço e impacto
social. Um feito que é importante não só para a história da comunidade evangélica da cidade, mas para o reconhecimento do legado espiritual e social da família Costa em Itabuna. A obra de Renato Costa, portanto, enquanto médico, político e humanista, tem raízes profundas, numa genealogia em que a fé e o trabalho por um mundo melhor foram a sua motriz. Renato Costa não chegou a prefeito de Itabuna. Uma cidade cujo perfil antropológico ainda não parece estar pronto para ter gestores eticamente mais evoluídos. Como diz o Eclesiastes, os processos da existência são sempre reféns dos
desígnios do tempo. Ainda não chegou a hora de um líder da estatura de Renato Costa. Mas, ainda assim, a cidade terá sempre as marcas de suas ações, mesmo distante do poder máximo, as obras de Renato, suas atuações, deixaram legados que por muitas décadas continuarão a acolher pessoas e a salvar vidas. Como dizia o saudoso deputado Ulysses Guimarães, alguns políticos nascem para ocupar cargos executivos; outros, porém, nascem para servir de forma muito mais ampla e digna ao seu povo. Esse é o destino do Dr. Renato Costa.

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